No APP – Sindicato dos Professores do Paraná 6f321v
Em artigo sobre o adoecimento dos(as) profissionais da educação na rede estadual de ensino do Paraná, provocado pela imposição de plataformas e cobrança de metas abusivas pela Secretaria de Estado da Educação (Seed), a professora e coordenadora do Departamento de Pedagogos(as) da APP-Sindicato, Aline Chalus Vernick Carissimi, manifesta a indignação da categoria contra este método de gestão do ensino.
Em seu texto, a educadora faz memória do caso da professora Silvaneide Monteiro Andrade, que faleceu no Colégio Estadual [Cívico-Militar] Jayme Canet, em Curitiba, nesta sexta-feira (30).
Confira abaixo a íntegra do artigo.
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Plataformas da morte! 2ne6o
Pela Profa. Dra. Aline Chalus Vernick Carissimi
No dia 30 de maio de 2025, uma tragédia colocou em xeque o preço pago pelos servidores da educação, pela “melhor educação do Brasil”.
A morte da professora Silvaneide dentro do Colégio Estadual Cívico Militar Jayme Canet, em Curitiba, vítima de um infarto, acende uma luz de emergência sobre as condições de trabalho, clima escolar e saúde dos professores.
De acordo com relatos de colegas da instituição escolar, a professora, que ministrava aulas de Língua Portuguesa, estava sendo cobrada pelos índices de o às plataformas online da Seed quando teve o mal súbito e acabou falecendo no local.
A vigilância por parte da Seed quanto ao uso das plataformas educacionais digitais e o excesso da burocracia vem sendo cada vez mais intensificadas no chão das escolas públicas da rede estadual de ensino.
A aprendizagem dos estudantes tem se mostrado secundarizada pelas políticas educacionais do governo, na contrapartida dos números e estatísticas das unidades educacionais.
Para fazer subir os números do ranking educacional do Paraná mediante ao Brasil, a Seed tem lançado mão de práticas de gerenciamento de pessoal e resultados que ignoram o bem estar dos servidores, geram assédio e cobranças, por meio de tutores escolares, embaixadores de plataformas, chefes de NREs, que cuidam e acompanham minuciosamente o desempenho numérico de cada escola e exigem das escolas melhores resultados a qualquer preço.
Talvez a professora Silvaneide tenha sentido o impacto dessa pressão de uma forma tão avassaladora que ceifou sua vida.
O trabalho do professor do Paraná não tem valor, no sentido mais amplo, do termo valorização, ele tem preço!
Paga-se abono IDEB, gratificação GTE, que não permitem ao educador o adoecimento.
Nas últimas semanas a Seed tem exigido cada vez mais planilhamentos e resultados das equipes escolares, seja com as plataformas: LEIA, Redação Paraná, Matemática Paraná, Inglês Paraná, Quizziz, Agrinho, Recomposição da Aprendizagem, Simulados preparatórios para o SAEB a cada 15 dias, simulado Acerta Brasil, simulado online, Semana tech, Desafio Paraná online, etc… Tudo configurado no alto preço da mercantilização e privatização da educação para empresas e conglomerados educacionais que levam o dinheiro público dos paranaenses à custo da nossa saúde!
Além disso, as equipes gestoras, diretores e pedagogas, são semanalmente cobradas pelas tutorias da Seed e chefias dos NREs sobre os índices educacionais que envolvem o uso das plataformas, o famoso Power BI, diante de inúmeros critérios: frequência estudantil, uso das plataformas, relatórios de estudantes sem frequência (aqueles que possuem notas abaixo de 40 pontos), relatórios de estudantes para a rede de proteção, neste ponto são cobrados para que os estudantes obtenham no mínimo 85% de frequência, ando por cima do que consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que delimita as faltas dos estudantes em 25% no período.
A política da Seed é diferenciada, a meta é de 85% de frequência e não importa o que diz a lei máxima da educação, importam os números!
Nosso trabalho tem valor! Somos nós que construímos o futuro do Paraná.
A aprendizagem estudantil tem valor!
As vidas dos nossos professores e funcionários tem valor!
O governo do Paraná nos rouba pouco a pouco nossos direitos, duramente conquistados com o suor do nosso trabalho.
Rouba a data-base, a hora-atividade, a formação continuada digna, nossa carreira, as condições de trabalho, mas não pode nos roubar a vida!
Nosso trabalho tem valor e nossa vida não tem preço!
Semana de luto e luta: sem plataformas!
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Por Profa. Dra. Aline Chalus Vernick Carissimi, professora pedagoga da Rede Estadual de Ensino do Paraná.
Foto: Silvaneide Monteiro Andrade em sua página numa rede social.