No Senado, Marina afirma que IBAMA não dificulta, apenas cumpre a lei 5m23y

Ministra é desrespeitada por senadores defensores da flexibilização do licenciamento ambiental e exploração de petróleo na Amazônia 2s2xq

ClimaInfo

reunião da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal realizada nesta 3a feira (27/5) entrará para os anais do Congresso como uma das mais infames da história recente (que, aliás, está ficando repleta de momentos desse tipo). De forma gratuita, os senadores hostilizaram a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), presente à sessão, com direito a ataques misóginos e insinuações de baixo nível.

A iniciativa de chamar Marina foi do senador Lucas Barreto (PSD-AP). A intenção inicial era solicitar explicações sobre a proposta de criação da maior Unidade de Conservação marinha do país, no litoral norte, mais especificamente na região da chamada Margem Equatorial. Defensores da exploração de petróleo na foz do rio Amazonas criticam a proposta, sob a justificativa de que ela restringiria essa atividade.

Questionada, a ministra ressaltou que o projeto não cria restrições a investimentos de infraestrutura em seu entorno. “No processo de criação [da Unidade de Conservação] já está estabelecido que oleoduto, gasoduto, portos, o que tiver que fazer, já está dito no próprio processo que isso não será impeditivo”, disse, citada pela Exame.

Como ressaltou a CNN Brasil, Marina fez questão de explicitar o papel da pasta que chefia e do IBAMA, alegando que a política ambiental brasileira parte de premissas científicas e técnicas. “O que nós estamos fazendo aqui não é dificultando porque quer dificultar. O IBAMA não facilita, o IBAMA não dificulta, cumpre a lei e tenta fazer da melhor forma possível”, afirmou a ministra.

As explicações, porém, não foram suficientes para evitar que a hostilidade escalasse. A Folha destacou as acusações feitas pelo senador Omar Aziz (PSD/AM) de que, em sua gestão, o IBAMA estaria dificultando o licenciamento da reconstrução do trecho do meio da BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO). A ministra rebateu, argumentando que ficou fora do governo por 15 anos e que o projeto não andou nem mesmo na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), entusiasta da obra.

A grosseria ficou por conta do presidente da comissão, o senador bolsonarista Marcos Rogério (PL/RO). O parlamentar desligou o microfone de Marina durante uma de suas falas e, em um show de machismo barato, disse à ministra para ela “colocar-se em seu lugar”. A intervenção misógina incendiou a reunião, tornando-a um festival de gritaria.

Em sua defesa, Marina foi firme. “O meu lugar é defender o meio ambiente. Esse é o meu lugar. E é um lugar que eu ocupo não por ser ministra, mas por ter compromisso com essa agenda desde que eu me entendo por gente”, disse, citada pela VEJA.

Depois da sessão, Rogério alegou que “em nenhum momento houve qualquer manifestação que buscasse diminuir ou desqualificar a ministra” e disse estar sendo alvo de um “ataque pessoal e infundado”. Contrariando o que se viu – e que foi registrado pela TV Senado de forma integral -, o parlamentar afirmou que Marina foi quem primeiro “se exaltou”.

show de horrores não poderia ficar completo sem a manifestação de outro prócer do bolsonarismo amazônico, o senador Plínio Valério (PSDB/AM). O parlamentar foi alvo de críticas em março depois de afirmar que teria vontade de “enforcar” Marina Silva, o que gerou críticas inclusive do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil/AP).

Dessa vez, sem o menor pingo de vergonha, Valério atacou Marina, dizendo que ele respeitaria a mulher, mas que a ministra não mereceria respeito. A fala terminou de azedar a situação, com Marina exigindo um pedido de desculpas, negado pelo senador tucano. Restou a ela deixar a sessão antes do final, para não dar mais oxigênio às insanidades do Senado Federal.

O presidente Lula ligou para Marina para se solidarizar após os ataques sofridos no Senado. “Me senti melhor depois que você tomou a decisão de se retirar da comissão. Você fez certo. Era isso mesmo que você deveria ter feito”, teria dito o presidente, de acordo com o UOLAgência BrasilCNN Brasilg1 e VEJA, entre outros, repercutiram a informação.

Em nota, o Observatório do Clima manifestou solidariedade à ministra, ressaltando os resultados positivos de sua gestão no meio ambiente. “A agredida é uma mulher negra da Amazônia e ministra de Estado pela segunda vez. Em dois anos, o trabalho da equipe liderada por ela resultou numa redução de 46% do desmatamento na Amazônia em relação a 2022, segundo dados do INPE. Marina é muito maior do que eles”, destacou.

O triste espetáculo armado pelos senadores contra Marina Silva teve grande repercussão na imprensa, com manchetes na Agência BrasilCartaCapitalCNN BrasilCongresso em FocoCorreio BrazilienseEstadãoFolhag1MetrópolesO GloboUOL e Valor, entre outros.

Foto: Valter Campanato / ABr

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