IHU 3e3a31
Ao celebrar uma “amizade” com um Estado que perpetra crimes sistemáticos contra um povo ocupado e cercado, o Senado brasileiro não apenas se omite diante de um genocídio, mas se coloca ao lado do opressor.
O artigo é de Paulo Sérgio Pinheiro, publicado por Folha de São Paulo e reproduzido por Faustino Teixeira em seu Facebook.
Paulo Sérgio Pinheiro é professor aposentado de ciência política na USP; ex-ministro dos Direitos Humanos; relator especial da ONU para a Síria e membro da Comissão Arns. Autor, entre outros livros, de Estratégias da ilusão: a revolução mundial e o Brasil, 1922-1935 (Companhia das Letras).
Eis o artigo. 6v193z
O Senado brasileiro mancha sua história ao instituir o ‘Dia da Amizade Brasil-Israel’, celebra a aliança com um Estado genocida enquanto crianças palestinas são enterradas sob os escombros de Gaza
É com profunda indignação que manifestamos nosso repúdio à decisão do Senado Federal brasileiro, que, por unanimidade, declarou o dia 12 de abril como data oficial de celebração da “amizade Brasil-Israel”. Trata-se de um gesto inaceitável, de insensibilidade extrema, especialmente num momento em que o Estado de Israel intensifica uma campanha sistemática de extermínio contra a população palestina na Faixa de Gaza.
É ainda mais lamentável que parlamentares de partidos comprometidos historicamente com os direitos humanos e com a autodeterminação dos povos tenham eventualmente endossado essa decisão vergonhosa.
No próprio dia 12 de abril – data agora marcada por esse equívoco histórico –, Israel aprofundava o cerco genocida a Gaza, onde mais de dois milhões de palestinos vivem sob bombardeios incessantes que atingem majoritariamente mulheres e crianças.
Desde 6 de março de 2025, o Estado de Israel impõe um bloqueio total à entrada de ajuda humanitária, alimentos, medicamentos, insumos hospitalares e eletricidade. Este bloqueio, classificado como crime de guerra por especialistas e organismos internacionais, segue vigente até os dias de hoje, com a liberação de ajuda humanitária ocorrendo de forma esporádica e totalmente insuficiente, segundo relatos das Nações Unidas.
Neste contexto, é importante lembrar as palavras do general Yair Golan, ex-vice-chefe das Forças Armadas de Israel e atual presidente do partido Democrático (de esquerda): “Um país com sanidade não mata bebês como hobby”.
Ao celebrar uma “amizade” com um Estado que perpetra crimes sistemáticos contra um povo ocupado e cercado, o Senado brasileiro não apenas se omite diante de um genocídio, mas se coloca ao lado do opressor.
Reafirmamos nossa solidariedade irrestrita ao povo palestino e conclamamos parlamentares e autoridades brasileiras a reverem urgentemente sua postura frente às violações de direitos humanos cometidas por Israel.
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Mulher palestina carrega criança na Faixa de Gaza após represálias de Israel aos ataques surpresa de Hamas — Foto: Mahmud Hams/AFP