Analogias apressadas são perigosas, mas talvez haja uma conexão entre o genocidio palestino e o de jovens periféricos: produzir ordem a partir do extermínio dos indesejáveis. Como apontou Fanon, o colonizado não é apenas explorado: é desfigurado em sua condição de ser 11j4p
É desconexo comparar Gaza com as periferias brasileiras? Pode parecer. Mas talvez a pergunta esteja mal formulada. Não se trata da tentativa de nivelar tragédias, mas sim de perceber continuidades estruturais: quem pode ser morto sem escândalo? Quem não é considerado plenamente humano pelas engrenagens de poder, aqui e lá? A semelhança não está no cenário — uma faixa de terra sitiada por mísseis, um bairro patrulhado por viaturas — mas no status ontológico atribuído aos corpos que habitam esses espaços. Em ambos os casos, trata-se de populações convertidas em excedentes, sujeitas a um regime de violência legitimada, ora pelo discurso da guerra, ora pelo verniz da ordem pública. A questão, portanto, é outra: quantas formas pode assumir o mesmo gesto de apagar vidas? (mais…)